No dia 3 de maio de 2025, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) promoveu um ato político no acampamento Valmir Mota Keno, localizado em Água Fria de Goiás, a cerca de 140 quilômetros de Brasília. A mobilização reuniu cerca de 700 famílias e teve como objetivo denunciar práticas de trabalho escravo, grilagem de terras públicas e os impactos negativos do agronegócio na região.
O acampamento Valmir Mota Keno, que já foi palco de outras lutas pela reforma agrária, foi retomado no dia 7 de abril como forma de resistência à grilagem e à luta pelo direito à terra. De acordo com Marco Baratto, da coordenação do MST DF e Entorno, a região onde está localizado o acampamento é marcada historicamente pelo coronelismo, pela concentração fundiária e pela violência no campo. Ele destaca que o modelo do agronegócio destrói tudo ao redor e se sustenta com trabalho escravo e crime ambiental.
A Fazenda São Paulo, vizinha ao acampamento, é um símbolo dessa realidade. Em 2023, uma ação de fiscalização resgatou 84 trabalhadores em condições análogas à escravidão na fazenda. Além disso, a propriedade tem ligação com a Chacina de Unaí, um crime que chocou o país. Antério Mânica, condenado como um dos mandantes do assassinato de três auditores fiscais do trabalho e um motorista em 2004, é genro de Marcos Rogério Boschini, atual administrador da fazenda.
O MST também denunciou a atuação do governo estadual. O movimento afirma que o governador Ronaldo Caiado declarou que não haveria ocupações em Goiás durante o mês de abril. Em resposta, o MST organizou a ocupação em Água Fria de Goiás, enfrentando o governo estadual e buscando conquistar o território para desenvolver e produzir alimentos saudáveis para a região e para os centros urbanos.
Valmir Camilo, da coordenação do MST DF e Entorno, ressaltou que a disputa pelo território em Água Fria é antiga e que a retomada da área cumpre uma função de denúncia e defesa das conquistas da reforma agrária. Ele afirmou que o objetivo é assentar entre 1 mil e 1,2 mil famílias nessas terras, transformando-as por meio da produção de alimentos saudáveis para a mesa do trabalhador e para o povo brasileiro.
O ato político também contou com a presença de militantes, organizações populares, movimentos sindicais, partidos e parlamentares, que se uniram em defesa da reforma agrária e contra as violações de direitos no campo. A mobilização buscou denunciar as práticas de grilagem de terras públicas, a exploração de trabalhadores e os impactos socioambientais causados pelo agronegócio.
O MST enfatizou que a luta pela reforma agrária é uma questão de justiça social e que é necessário romper com o modelo de produção que prioriza o lucro em detrimento da vida e da dignidade humana. O movimento conclamou a sociedade a se unir em defesa dos direitos dos trabalhadores rurais e pela democratização do acesso à terra.
Em resposta ao ato, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) informou que a Superintendência do Incra no Distrito Federal está promovendo o levantamento da situação da gleba ocupada e examinando se os eventuais ocupantes possuem perfil para o Programa Nacional de Reforma Agrária. O órgão afirmou que as trabalhadoras e os trabalhadores rurais continuam na área pública e que serão tomadas as providências cabíveis conforme a legislação vigente.
O ato político em Água Fria de Goiás faz parte da jornada de lutas do MST, que inclui ocupações de latifúndios, marchas, distribuição de alimentos e protestos em sedes do Incra em todas as regiões do país. O movimento reafirma seu compromisso com a luta pela reforma agrária, pela justiça social e pelos direitos dos trabalhadores rurais.
A mobilização em Água Fria de Goiás é um exemplo da resistência do MST contra as injustiças no campo e da busca por um modelo de desenvolvimento que respeite os direitos humanos, a dignidade e o meio ambiente. O movimento continua a lutar pela democratização do acesso à terra e pela construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Autor: Willyam Bouborn Silva